Damascos
- Mas Maria Cláudia, o que foi que eu fiz? Não me olha assim!!
Não era de se esperar que Carlos fizesse alguma coisa errada.
-Um sujeito promissor, esse Carlos. - era constantemente abordado.
Educado nas melhores escolas, apreciador das belas artes, fluente falante de quatro línguas, amante dos livros. Funcionário exemplar e empenhado, em constante desenvolvimento. Promissor, esse rapaz Carlos. Maria Claúdia nada tinha do que reclamar também. Nos restaurantes, pagava a conta; no carro, abria a porta. A fim de evitar atritos, para o sogro era Vasco, para a namorada fã de Caetano. E, ah, que olhos!
Maria Cláudia era filha do dono da empresa de engenharia na qual Carlos trabalhava. Mas não pense você que era essa a "promessa" de Carlos. Não fazia seu feitio. Querido pelos colegas de trabalho, adorado pelas vizinhas idosas. Apartamento próprio e decorado no Leblon. Carro zero e coleção de Cds completa dos Bee Gees.
Carlos e Maria Cláudia se conheceram em uma festa da empresa, cuja nova filial estava sendo inaugurada em Cabo Frio. Traje de gala. Carlos ficou muito bem de terno com a gravata escolhida pela mãe e elogiada por Maria Cláudia - cor de damasco, que excêntrico, contrasta com seus olhos!
O que poderia ter Carlos errado? Estavam de volta a Cabo Frio, três exatos anos após a festa de inauguração. Coincidência? Claro que não. Conseguira suadamente reservas para o dia 18 de maio no hotel e restaurante que Maria Cláudia tanto gostava, e tinha um propósito.
Escondera o propósito (de brilhantes, escolhido pela mãe, ainda não elogiado por Maria Cláudia) na musse de damasco, contratara um quarteto de cordas para tocar a mesa. Dois violonistas, uma bonita mulher na viola, um violoncelista com um grande bigode ruivo-damasco acompanhado do caótico invasor da tuba. (Veríssimo mandou lembranças.) Clichê, é verdade. Mas criatividade ou originalidade não faziam o feitio de Carlos, funcionário promissor, marido promissor. Não se ajoelhara, é fato. Como se fizesse diferença... Será que era isso? Só podia ser, porque, apesar de assitir o especial do Roberto Carlos no fim de ano e ter uma orelha ligeiramente díspare da outra, Carlos não fazia o feitio do cara a ser dispensado na frente dos músicos do Recital de Veríssimo, em Cabo Frio, ao gosto azedo de damasco. Maria Cláudia devia se explicar.
Ela ainda o fitava atônita, o anel na colher, musse de damasco na boca. Bom, ela não esngasgou, ou o engoliu, pensou aliviado, isso daria um trabalho... lavagem estomacal, e eu ando sem tempo para hospitais...
- Damascos, Carlos, damascos... - falou suspirando.
- Eu sei, meu amor, é o seu preferido.
- Damaaaaas...
Cabeça na taça de damasco. Damasco maculando a toalha branca de seda. O rebelde da tuba solta um gritinho de horror.
Não era o preferido. Era o corante letalmente alérgico. Boa memória não era do feitio de Carlos, o então homicida promissor.
Não era de se esperar que Carlos fizesse alguma coisa errada.
-Um sujeito promissor, esse Carlos. - era constantemente abordado.
Educado nas melhores escolas, apreciador das belas artes, fluente falante de quatro línguas, amante dos livros. Funcionário exemplar e empenhado, em constante desenvolvimento. Promissor, esse rapaz Carlos. Maria Claúdia nada tinha do que reclamar também. Nos restaurantes, pagava a conta; no carro, abria a porta. A fim de evitar atritos, para o sogro era Vasco, para a namorada fã de Caetano. E, ah, que olhos!
Maria Cláudia era filha do dono da empresa de engenharia na qual Carlos trabalhava. Mas não pense você que era essa a "promessa" de Carlos. Não fazia seu feitio. Querido pelos colegas de trabalho, adorado pelas vizinhas idosas. Apartamento próprio e decorado no Leblon. Carro zero e coleção de Cds completa dos Bee Gees.
Carlos e Maria Cláudia se conheceram em uma festa da empresa, cuja nova filial estava sendo inaugurada em Cabo Frio. Traje de gala. Carlos ficou muito bem de terno com a gravata escolhida pela mãe e elogiada por Maria Cláudia - cor de damasco, que excêntrico, contrasta com seus olhos!
O que poderia ter Carlos errado? Estavam de volta a Cabo Frio, três exatos anos após a festa de inauguração. Coincidência? Claro que não. Conseguira suadamente reservas para o dia 18 de maio no hotel e restaurante que Maria Cláudia tanto gostava, e tinha um propósito.
Escondera o propósito (de brilhantes, escolhido pela mãe, ainda não elogiado por Maria Cláudia) na musse de damasco, contratara um quarteto de cordas para tocar a mesa. Dois violonistas, uma bonita mulher na viola, um violoncelista com um grande bigode ruivo-damasco acompanhado do caótico invasor da tuba. (Veríssimo mandou lembranças.) Clichê, é verdade. Mas criatividade ou originalidade não faziam o feitio de Carlos, funcionário promissor, marido promissor. Não se ajoelhara, é fato. Como se fizesse diferença... Será que era isso? Só podia ser, porque, apesar de assitir o especial do Roberto Carlos no fim de ano e ter uma orelha ligeiramente díspare da outra, Carlos não fazia o feitio do cara a ser dispensado na frente dos músicos do Recital de Veríssimo, em Cabo Frio, ao gosto azedo de damasco. Maria Cláudia devia se explicar.
Ela ainda o fitava atônita, o anel na colher, musse de damasco na boca. Bom, ela não esngasgou, ou o engoliu, pensou aliviado, isso daria um trabalho... lavagem estomacal, e eu ando sem tempo para hospitais...
- Damascos, Carlos, damascos... - falou suspirando.
- Eu sei, meu amor, é o seu preferido.
- Damaaaaas...
Cabeça na taça de damasco. Damasco maculando a toalha branca de seda. O rebelde da tuba solta um gritinho de horror.
Não era o preferido. Era o corante letalmente alérgico. Boa memória não era do feitio de Carlos, o então homicida promissor.
8 Comments:
Pq as mulheres tem que ter alergia a mim? EU NAO SOU VIADO , ouviu??
Nada existe que não se escreva, mas isso já uma demonstração ostensiva de preconceito!!
Agora eu gosto menos ainda de damascos. Eles ficaram se oferecendo para mim na ceia mas os recusei, ha!
Belo texto ;D
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
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Você é uma escritora promisssora.... haahahahh Gostei do texto. Inesperado, caricato, levemente filosófico. Não havia fruta melhor pra ilustrar toda essa situação classe média que o damasco. Atualize o blog. Você tem talento
Muito bom seus textos. Escreves muito bem, boas tiradas e metáforas. Parabéns!
Não deixe de escrever
Adorei o texto. Sabia que vc escrevia... É só olhar na sua cara. Cabelo vermelho... eu sabia! Tinha que ser escorpiana, na verdade...
Não acredito que vc não posta há um ano e meio, que absurdo!
beijo
Bonjour, pontoparagrafo.blogspot.com!
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