19.6.05

Fim do primeiro capítulo...

Com o fiasco cada vez mais evidente da novela América e a ausência de um reality-show digno de aparecer no "A Casa é Sua", a população brasileira busca outras alternativas para distrair sua vidinha medíocre e rotineira. Alguns optam por panela-velha, como "Xica da Silva", outros, pela emocionante programação non-stop da TV Câmara.

O Brasil parou mais uma vez para assistir a um grande evento político que envolve escândalos, roubalheiras, bodes expiatórios e horas ininterruptas de transmissão ao vivo. Roberto Jefferson foi a estrela da vez e mostrou que sua inscrição na escolinha de teatro quando criança lhe rendeu mais que apelidos jocosos. Com grande poder de interpretação e acusação, o deputado se mostrou desenvolto para escapar de perguntas e sempre audaz para utilizar o dedo indicador. O público, que de início estava meio desinteressado, se empolgou e passou a ora vaiar, ora aplaudir - alguns deram risadas, mas esses já vêm rindo faz tempo.

No fim do capítulo, todos saíram com um gostinho de quero mais; donas-de-casa mais exaltadas exigiram a presença de figurões de maior apelo popular, como Antônio Carlos Magalhães e sindicatos de todo o Brasil se revoltaram por Lula não ter tido a atenção de fazer um pronunciamento e nos brindar com alguns improvisos.

A conclusão a que se chega depois de tudo é que o povo não gosta mesmo de política; gosta é de novela e de ver o circo pegar fogo. Enquanto durarem os trabalhos da Comissão de Ética não se falará de outro assunto nas esquinas. E a coisa parece que vai esquentar: diz-se à meia-boca que a Globo já fechou contrato com Roberto Jefferson para um bico no lugar da Débora Secco.

Em tempo: perdão pela falta de sutileza do tema e pela defasagem na postagem.

14.6.05

Da sedução

Entre muitas outras, ele a encontrou. Não era a mais bonita, a mais simples e tão pouco a mais original. E naquela noite tão escura, um tanto nebulosa, ela esquivava-se dele, impossibilitanto ver bem seus contornos, suas formas - que se revelariam tão sedutoras - fato que só a tornava mais e mais interessante. Ela assumia uma postura com toques de prepotência, já que era ciente de sua predileção entre outras tantas; ela era especial. E bem sabia ele disso.
Até mesmo entendê-la era um mistério. Ela era um paradoxo, mas isso não o incomodava de maneira alguma. Só a fazia mais especial. Ela também possuia muitas vontades que ele fazia questão de satisfazer. E como a cortejava! Às vezes uma impressão de não saber onde ele começava ou ela terminava o arrebatava de surpresa, e ele ficava a pensar que ela era - e sempre fora - parte dele! E ele se tornara nada mais do que um escravo... E ainda que na servidão, era prazer estar junto dela.
Deixou, sem perceber, que ela dominasse todos os seus pensamentos, porém nada mais importava. Tão grande e de tal forma fora a sua sedução, que ele sonhava com ela, por ela passara fome e perdera noites de sono; se comprometera tão avidamente que tentar esquecê-la ou ignorá-la era como tirar sua própria vida.
Armou então um contexto a fim de dignificá-la, colocá-la onde ela realmente pertencia: ligou a vitrola, apagou a luz. Tinha uma garrafa de vinho tinto à mesa . Eis então que ao som da mais romântica trilha sonora(*) a chuva começou, e no ápice da sedução, a máquina-de-escrever funcionou incessantemente em sua tarefa: a dor do parto, o gozo da criação. Ela, a personificação de uma idéia, a paixão de todo escritor.
E do amor fez-se a metalinguagem.


(*) Acreditem se quiser, mas fiz uma pequena pesquisa antes, para descobrir o que seria "a mais romântica trilha sonora". Resolvi não postar o resultado, hummm, digamos, nojento: Robbie Willams. Breeeega toda vida.